A produção leiteira no Brasil vem crescendo constantemente nos últimos séculos apesar do número de produtores ter reduzido consideravelmente, essa baixa no número de produtores e constância na produção leiteira se dá pela tecnificação dos grandes produtores e falência dos pequenos ocorridas em função das exigências requeridas para a qualidade do leite e altos custos de produção.
Nos últimos dois anos vimos uma distinção de cenários em relação a anos passados, tanto em relação à indústria quanto ao produtor. A indústria vem sendo desafiada com o seu custo de produção e de aquisição da matéria prima em relação ao benefício de suas vendas.
Para os produtores, segundo estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, no ano de 2019 o Índice de Custo de Produção (ICP) caiu 1,78% em relação ao ano anterior e em um acumulado de 12 meses apresentou uma deflação de 1,59%, essa porcentagem diz respeito a um balanço dos dois semestres, ou seja, os resultados de um semestre acabam interferindo e na maioria das vezes equilibrando os resultados do outro. No primeiro semestre houve maior rentabilidade para o produtor devido ao bom preço do leite e baixos custos de produção, alertamos para o principal fator dessa baixa: a alimentação concentrada. Em contrapartida, no segundo semestre o preço do leite recuou e houve o aumento do custo de produção, apontamos novamente para o aumento devido principalmente ao custo de produção do milho.
No atípico ano de 2020, diante da interferência inevitável da pandemia da Covid-19, inclusive no setor leiteiro do país, o acumulado de 12 meses do ICP fechou o ano com um aumento de 6,11% e uma inflação no setor de 2,92%, tendo por base o ano anterior. O que geralmente acontece é que no primeiro semestre os custos são mais altos que os lucros e no segundo semestre ocorre o contrário, como citado acima, nesse ano os grupos que mais contribuíram para o aumento da inflação em ambos os semestres do ano foram o alto valor da alimentação concentrada e dos produtos sanitários, o último sendo uma clara interferência da pandemia.
O que percebemos diante desses fatos, é que o que mais flutua durante um ano considerado normal é o valor da alimentação concentrada. O que se torna um custo ainda maior, por ser inevitável para os produtores que trabalham com leitaria intensiva, ao contrário do que acontece com os produtores que trabalham com leitaria extensiva onde a suplementação com concentrado é utilizada em menores quantidades. Ao longo desta publicação iremos pontuar alternativas para contornar situações como as citadas acima nos dois anos anteriores, bem como informações importantes para nortear a produção neste ano.
Tendo em vista as frequentes chuvas na região Sul do Brasil, são boas as perspectivas de produção de grãos para o ano de 2021, estimando-se então uma safra superior à anterior, onde a falta de chuva comprometeu boa parte da produção, contribuindo assim para os altos preços dos alimentos destinados à nutrição animal. Outro fator importante a ser considerado nos preços elevados dos cereais e seus derivados, é que no ano de 2020, tivemos a segunda maior exportação de milho de toda história do país, ficando atrás apenas do ano anterior.
Para a safra de 2020/2021, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima colher cerca de 8% a mais que na safra anterior, levando em consideração as principais culturas produzidas no Brasil, que são: soja, milho, arroz, feijão e algodão. Contudo, essa alta na produção não indica a queda nos preços, que por sua vez também é alavancado pela valorização do dólar.
Então, qual a melhor maneira de produzir leite de maneira rentável? Sabemos que não existe uma fórmula universal de produção e que cada realidade pode ser moldada da melhor maneira possível para se adaptar ao cenário em que estamos inseridos. Com isso, o planejamento forrageiro e a gestão de dados, tornam-se ferramentas imprescindíveis dentro de uma propriedade onde através delas, tomaremos decisões que irão impactar nos rendimentos.
No ano de 2020, o preço do leite esteve em alta ao passar dos meses, dando uma boa perspectiva aos produtores, devendo continuar em alta no primeiro trimestre do atual ano. Porém, vale lembrar que, em contrapartida a isso, os preços destinados à alimentação e insumos utilizados para produção de alimentos, também estão valorizados no mercado, podendo gerar uma visão errada, ao avaliar de maneira individual o preço do leite, da verdadeira situação em que a cadeia produtiva enfrenta. Assim como ocorreu a alta no preço do leite, o mesmo se repetiu em diversas partes da cadeia produtiva do agronegócio, desde o insumo utilizado na lavoura, que gera reflexo no preço da ração, aumentando o custo da produção do leite. Desta maneira, o aumento do preço do leite não assegura um aumento na receita do produtor.
Começamos o ano em 2021 com queda no preço do litro do leite, embora historicamente o valor seja um recorde para o mês de janeiro, comparado ao mesmo período do ano passado, onde o valor neste ano é 42,6% maior. Essa queda no preço é sustentada devido a situação econômica no país, estando ainda em uma pandemia, com uma alta no desemprego e com o poder de compra do brasileiro menor, o consumo do leite e derivados diminuiu.
A insegurança do produtor é grande, pois o preço do leite não acompanha o aumento dos insumos, e torna-se cada vez mais difícil se sustentar no mercado, desse modo utilizar alternativas e novas técnicas de manejo para diminuir seu custo e aumentar a sua produção é cada vez mais importante.
Grande parte do sucesso na produção de leite se deve a nutrição dos animais lactantes. A exigência nutricional de uma vaca em produção deve ser correspondida, ou seja, ela deve ter ao seu “alcance”, tudo aquilo que necessita para se manter e produzir. Sabemos que isso não é tarefa fácil e que ao longo de todo ciclo, diversos são os obstáculos que iremos encontrar. Mas afinal, é melhor produzir em sistemas confinados ou em sistemas a pasto?
Para responder essa pergunta, reforçamos mais uma vez que é importante entender a realidade da propriedade e moldar ao cenário atual e para isso, planejar, essa é a palavra que irá garantir o sucesso. Em sistemas confinados ou semiconfinados, torna-se mais fácil fornecer aos animais aquilo que eles necessitam para produzir, ou seja, se tivermos uma ração formulada da maneira correta, estaremos ofertando aos animais, aquilo que precisam. Porém, não é tão simples quanto parece. Existem diversos obstáculos que irão influenciar, positivamente ou negativamente, o consumo desses animais, como, por exemplo, o conforto térmico e o tempo destinado à alimentação. Já na produção a pasto, o desafio é ainda maior pois os animais irão buscar seu próprio alimento. Cabe então, neste sistema, fornecermos o melhor aporte possível, manejando de maneira correta as pastagens. Cada espécie forrageira possui uma altura mínima e máxima, onde dentro desses limites teremos seu melhor aproveitamento, fortalecendo seu crescimento mais rápido e oferecendo aos animais maior quantidade de nutrientes disponíveis.
Encontram-se diversas espécies forrageiras de alto rendimento e qualidade e essas aliadas a um bom sistema de pastejo podem trazer grandes resultados para uma propriedade leiteira, visto que tem como vantagem menor custo e investimento para a produção do leite, Dado que grande parte do custo do produtor para a produção é com a alimentação dos animais. Há diversas formas de tornar a exploração das pastagens mais rentáveis e aumentar a intensificação destas, como as já citadas, isso não quer dizer que o produtor deva se atentar somente às pastagens, mas uma pastagem de qualidade e um sistema ajustado diminui o custo de produção, sendo de grande importância para o produtor. Quem vai lucrar mais?
Não há resposta certa, temos a influência de inúmeros fatores e o importante é focarmos em diminuir os custos sem comprometer a produtividade significativamente, já que produção não é sinônimo de lucratividade, embora seja um índice de suma importância. Devemos sempre examinar nosso sistema de produção minuciosamente e observar onde estão os gargalos para diminuí-los. Segundo o Canal Rural, em 2020, 34 litros de leite compravam um saco de milho, a expectativa da relação de troca para 2021 é que ultrapasse 40 litros de leite para o mesmo saco. Cabe então, analisar quais alternativas devem ser tomadas para uma pecuária leiteira de sucesso.
Para que o produtor consiga permanecer na atividade leiteira, é de suma importância, o planejamento e execução de cada passo com maestria durante o ano, visto que especificamente na produção leiteira cada erro é cobrado imediatamente influenciando na produção que é “colhida” diariamente.
Para quem tem sua produção semi-intensiva ou extensiva, a preocupação com a produção de forragem está diretamente relacionada com o sucesso na atividade, o que nos leva a pensar na lucratividade da propriedade. A verdade é que na ponta do lápis, se manejado de forma correta a pastagem é sempre mais barata, em relação ao custo benefício de uma nutrição inteiramente feita com cereais, onde tradicionalmente os preços dos mesmos flutuam muito durante o ano, deixando seu valor tangenciado a inúmeras variáveis que dificultam sua previsibilidade. Já a produção de forragem embora feita a céu aberto, nos dá como vantagem o amplo conhecimento difundido sobre as mais diversas cultivares, a que temperatura se adaptam, quanto a expectativa de produção, índice pluviométrico necessário e outros fatores importantes.
No Rio Grande do Sul, temos as quatro estações do ano bem definidas, nos permitindo definir antecipadamente, que temos um pico de produção de forragem em primavera/verão e uma entressafra com escassez moderada no outono. Quando sem preparo, junto com uma quase inexistente produção no inverno, é preciso driblar ou aproveitar essas situações, cabendo ao produtor saber se preparar buscando alternativas viáveis.
Para tentar ajudar, iremos citar algumas possibilidades. Quando falamos de produção de forragem no inverno, é importante salientar que dificilmente a produção de forragem será suficientemente capaz de suprir todas a necessidades para que os animais expressem o seu máximo potencial produtivo, para tal é necessária várias medidas, como a análise bromatológica da pastagem, formulação de dieta complementar e medidas de bem-estar animal, entre outros. Porém uma forragem de qualidade e quantidade adequada ajudam a diminuir esses custos, visto que, diminuem a necessidade da dieta complementar. Com intuito de entrar o inverno tendo pastagem, o produtor precisa tomar medidas ainda no verão, como coleta e análise de solo, para que não ocorra desperdício de insumos na lavoura, assim além de prevenir gastos desnecessários ele ainda consegue estar mais próximo de uma produção de massa de forragem excelente, pois uma correta interpretação e suporte das necessidades de nutrientes do cultivo escolhido torna-se de suma importância para que a planta expresse o seu máximo potencial produtivo. Tradicionalmente, falando em nosso estado, as espécies que mais se adaptam ao nosso inverno são: Azevém, possuindo um ótimo valor nutricional e uma fantástica ressemeadura natural; Trevo branco que é uma ótima alternativa por ser perene, possuindo ótimo valor nutricional; Trevo Persa, Trevo Vesículoso, Trevo Vermelho e Cornichão, sendo alternativas de leguminosas com boa qualidade nutricional; Aveias, que possuem um rápido crescimento, antecipando a entrada dos animais.
No verão, as alternativas são inúmeras, existe a possibilidade de se trabalhar com campos nativos, pastagens perenes e pastagens anuais de produção primaveril, sempre muito condicionadas a índices pluviométricos, que quando muito baixos inviabilizam a produção. Dentre as mais usadas temos Panicum maximum, como o Capim Mombaça, Capim Zuri, Capim Tanzânia, que são espécies perenes de alta produção, porém, com alta exigência de fertilidade e índices pluviométricos. O capim elefante e suas cultivares, como o BRS Capiaçu o BRS Kurumi, o Milheto de alta produção e resistente a altas cargas, o capim Sudão resistente a déficit hídrico, o sorgo forrageiro que também resiste a escassez de água, entre outros.
Para finalizar essa breve pincelada sobre o assunto, cabe salientar que é necessária a correta interpretação e execução do processo de semeadura, de modo a ter uma população adequada de plantas para a formação da pastagem. Também é fundamental o cuidado com pragas que afetam o ciclo produtivo, como formigas cigarrinhas e o cuidado com manejos durante o ciclo também são de suma importância. Cada cultivar tem sua altura ideal de entrada e saída dos animais, essas alturas contribuem para o melhor aproveitamento da forragem, bem como, manejos que alteram o tempo de ocupação desses piquetes, como pastejo contínuo, rotatinuo, rotacionado, horário, contribuem ainda mais para o sucesso de sua pastagem.
Caso não tenhamos um bom planejamento forrageiro e para a dieta dos animais, o vazio forrageiro pode se tornar um problema dentro da propriedade leiteira. Este ocorre devido a um período de calor e umidade onde as plantas tendem a germinar e diminuir sua produtividade, podendo gerar uma escassez de alimento volumoso dentro da propriedade. O fato mais preocupante é que este fenômeno ocorre tanto com as pastagens de inverno, as quais têm um declínio na produtividade e com as forrageiras de verão, que ainda não estão corretamente estabelecidas.
Visto isso, torna-se essencial que o produtor passe a se preocupar com o futuro da propriedade e produção da mesma. Tomando mão de um planejamento forrageiro, com bastante antecedência, tem-se a oportunidade de planejar uma forrageira para produção no período em questão, ou tomar mão da produção ou aquisição de forragem conservada, sendo elas a silagem ou o feno; E deste modo não surpreender-se com a falta de insumo e ter que adquirir alimento concentrado, este que está com o valor bastante elevado no momento. Fazendo este planejamento podemos diminuir os custos da propriedade com insumos, produzindo de forma mais sustentável e com a oportunidade de trazer maior rentabilidade ao sistema.
Outro ponto que devemos levar em consideração é que a produção leiteira é bastante influenciada e dependente de uma dieta animal equilibrada e de qualidade. Quando temos as pastagens como base alimentar destes animais, os cuidados devem ser redobrados, para que a troca de estações, forrageiras e períodos como o vazio forrageiro, não influenciam negativamente na produção do rebanho. Estudos apontam que até 90% dos produtores de determinada região produtora de leite a base de pasto, sofrem com os impactos do vazio forrageiro, e sabemos que estes períodos diminuem a qualidade e quantidade das forragens interferindo diretamente na produção, sanidade animal e produtos destinados ao comércio. Além de toda a diminuição da produção animal e monetária da propriedade, estudos evidenciam também diminuição de peso e problemas reprodutivos nos animais na maioria dos casos.
Estabelecer objetivos e métricas é a base para o sucesso de uma propriedade. No caso da pecuária leiteira, planejamento forrageiro aliado a uma gestão de propriedade com qualidade, são garantia de bons resultados. A avaliação precisa da produção garante tomadas de decisões e soluções adequadas, assim, aumentando a produtividade e lucratividade.
A Ecape Jr. trabalha com técnicas capazes de orientar produtores ao melhor resultado, planejando e gerenciando os dados da produção através de índices zootécnicos e conhecimento de pastagens. Então, destacando a importância de definir objetivos claros, a fim de aumentar rentabilidade e reduzir prejuízos causados por decisões sem embasamento nas inter-relações entre recursos, atividades e influências, convidamos produtores a se desafiarem e aumentarem os números de produção da pecuária leiteira com metodologias simples e eficientes, e para isso estamos a disposição em todos os meios de comunicação, a fim de atende-los da melhor maneira.
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