Entrevista com o extensionista da Emater Evair Ehlert sobre a produção de Olivicultura na nossa região.
Por que a Oliveira tem dado tão certo na nossa região?
Um dos primeiros pontos a serem destacados é o preço da terra na nossa região. Hoje, temos terras bem mais acessíveis do que na região do planalto, por exemplo, onde um hectare chega a valer 1200 sacas de soja, ficando de 80 a 100 mil por hectare.
Na nossa região são encontradas terras que valem em média, 8 a 10 mil o hectare, sendo que as melhores áreas (nas encostas das terras do sudeste) chegam a valer 20 a 25 mil por hectare. Porém são terras distantes dos centros, sem energia elétrica e estradas, influenciando muito no preço.
As Oliveiras precisam de uma condição de solo 100% drenado e 100% aerado. Essas terras da região que produzem são bem drenadas, faltando apenas aerar e completar com irrigação, retirar o alumínio e colocar cálcio em profundidade, ou seja, calcariar.
Mais um ponto é que nossa região favorece o cultivo é a condição climática. Nessas áreas de produção, a segurança é maior, principalmente em relação a não ocorrência de geadas fora de época, evitando assim a queima de flores ou a perda de frutos. Assim sendo maior a segurança ao produtor.
Outra vantagem é a questão de mercado, por exemplo, os empresários que estão no ramo como por exemplo, Azeites Batalha (Pinheiro Machado) e Verde Louro (Canguçu), vendem pelo dobro, triplo ou até mais do preço normal do azeite. São azeites que você não vai encontrar no mercado, são vendidos só em lojas de “boutique”, ficando um preço muito atrativo, além de que, a qualidade desses azeites são incomparáveis com os que estão hoje no mercado. Os produtores sabem que 99% do azeite consumido pelos brasileiros é um azeite importado a granel e batizado por aí, sendo um enorme atrativo para o nosso mercado ainda. O mercado está em expansão por ter esse atrativo de preço, mas quem tá na atividade sabe que bem lá na frente não continuará assim.
E os senão da atividade?
Os pontos negativos da atividade é que é uma cultura nova, estamos conhecendo ela na região. E é uma atividade que precisa de mão de obra especializada, não é “pegar e sair plantando”. Embora tenha uma parte de colheita mecanizada, que é possível em algumas propriedades, a maior necessidade da atividade é mão de obra especializada. Além de que não é no 2º ou 3º ano que você vai estar tirando os custos da implantação, isso vai pro 8º ano geralmente. E ainda, há muita variabilidade na produção por árvore, pois conhecendo a região sabemos que há áreas mais nobres e outras menos. Variando muito a produtividade por área. Temos casos de produtores em 100 hectares, que era pra dar 4000 kg por hectare e só conseguiu 1000 kg, pensando no rendimento de 12-15% (no melhor dos casos) esse produtor que só conseguiu 1000 kg por hectare vai estar deixando de ganhar muito dinheiro.
E ainda, há a questão do manejo fitossanitário, pois hoje, não há produtos registrados para a aplicação nos Olivais, se o produtor necessitar de calda para tratamento e proteção no inverno, não tem nada registrado para oliveira.
Porém, a oliveira continua em expansão em nosso município, sendo que as áreas maiores de produção são Canguçu e Pinheiro Machado, hoje seriam os principais municípios produtores do estado RS e até mesmo do Brasil.
Há alguma região que tenha tendência de crescer o cultivo de oliveira?
A nossa região (Sul do RS) e a região de Barra do ribeiro, em direção a Santa Maria indo em direção a campanha que vai se haver a expansão da olivicultura, outras regiões, não tem como concorrer com soja em termos de ganho por hectare e facilidade porque é tudo mecanizado.
O destaque na nossa região com Oliveira é porque trabalhamos muito bem com a pecuária dependendo dos critérios de utilização da pecuária ou da ovinocultura ela se integra muito bem com essas atividades, obedecendo os parâmetros elas se integram muito bem na parte produtiva da oliveira, todos os produtores que conhecemos hoje estão com integração ou um outro menorzinho (produtor) que conhecemos não coloca pecuária e ovinos junto da exploração das oliveiras.
Claro que nesses casos (de integração) o produtor terá um menor rendimento das oliveiras por área, produtividade baixa, mas há compensação com o ganho da pecuária, daqui a pouco acontece um infortúnio com problemas seríssimos durante a polinização e as oliveiras produziram muito pouco, mas foi resolvido porque junto teve a pecuária.
E como a região é nova no cultivo e alguns consultores vieram de fora (Portugal, Itália, Uruguai ou Argentina) e não conhecendo bem nossa região ficamos com alguns problemas sérios na instalação dos pomares pela exigência da condição do solo 100% drenado e aerado, com calcário em profundidade, não obedecendo esses critérios, não deu certo, as árvores não vem e não se estabelecem se não fizer o trabalho de subsolagem no mínimo 40 cm.
Mas há lugares com 350 hectares de plantio, e como a região não tem uniformidade de solo como no planalto onde na maioria é latossolo, aqui, teremos desde argissolos até neossolos regolíticos, litólicos, e até cambissolos, ficando uma “salada” muito grande de solo e dependendo da situação precisará ter um manejo diferenciado, precisando se preparar pra isso.
Se hoje, algum produtor começar na atividade ele conseguirá vender o produto facilmente?
Sim, hoje a maioria dos produtores conseguem vender muito fácil seu produto mas tem que estar em conformidade com as normas do ministério da agricultura quando é uma agroindústria, sendo que deve estar legalizada, mas tem alguns produtores que não tá toda nas conformidades, mas ele vende lá na propriedade rural, que é perfeitamente possível o que ele não pode fazer é botar o seu produto, fora do seu estabelecimento, em lugares comerciais.
Você recomenda a integração da pecuária ou ovinocultura com as oliveiras?
Não sou favorável, se tiver hoje uma garantia que o teu olival, tem condições de ser irrigado, porque hoje, a baixa produtividade foi causada pela falta de irrigação, e na hora que os frutos mais precisavam de água realmente para ter um pouco mais de produtividade faltou água.
Não gosto da fruticultura com pecuária porque tem muita compactação, mas se nós conseguíssemos manter uma boa palhada e uma boa cobertura de solo (que hoje ninguém tá conseguindo fazer isso) pra aguentar esse pisoteio do gado e não ter compactação e fora que todo gado, e as ovelhas fazem um bom serviço na copa da oliveira, aquela “saia” que a gente costuma ter na árvore onde tem uma boa produção (com a copa quase tocando o chão com produção de frutos até ali) isso deixa de existir, é do nosso peito pra cima que as árvores tem alguma coisa o resto pra baixo tá tudo pelado.
Há alguma região que estão irrigando os pomares?
Na fazenda dos azeite batalha, lá é todo irrigado, e conta com consultoria uruguaia, mais na parte nutricional, porém ali quando implantaram os primeiros olivais (8 anos atrás) eles implantaram fazendo curva de nível, que nós não indicamos, porque pelo tipo de solo e regime de chuva, vai haver em algum momento uma saturação acima de determinadas horas e aí as oliveiras ficariam condenadas.
Hoje ele já está adotando morro acima e morro abaixo, que nós recomendamos, que também facilita o manejo fitossanitário porque depois se tiver que fazer pulverizações com turbina se tu pegar curvas de nível/terraceamento, não consegue a não ser que seja automatizado o teu atomizador, pois há valetas que condicionam o fluxo do produto fitossanitários e quando tu vai pra uma linha ele retorna e já tá completamente errado aquele fluxo então hoje eles adotaram, protegendo o solo com plantas de cobertura e palhada, estão fazendo morro acima e morro abaixo, pegando a irrigação por altos compensados, que é quando tu acertou o manejo com facilidade de mecanização, mas tu quebra a parte da irrigação, pelo morro acima e morro abaixo, mas também é possível.
Há alguma nova doença que tá surgindo com os olivais?
Não, é as normais, se entrar antracnose você não consegue tirar mais, mas daí os produtores estão bem avisados, e depois o Repilo e Emplomado (Doenças Fúngicas), isso tem acometido os pomares e se não cuidar teremos uma produção de azeite muito comprometida, pois se a antracnose estiver presente ela vai baixar a qualidade do azeite, e as outras desfolhadoras, que é o Repilo e Empomado
Na parte de pragas há lagartas desfolhadoras, e se não fizer o controle de inverno tem as cochonilhas, que geralmente acometem a maioria dos pomares que ocupam grandes áreas.
O que você gostaria de destacar mais?
O grande problema da olivicultura é 24h. Colheu, em 24 horas tem que tá fazendo o azeite, porque se não ele começa a perder a qualidade, isso é um gargalo muito sério, se não tiver transporte disponível.
Se for no Verde Louro hoje, a agroindústria está centrada bem no meio da propriedade, na volta estão os pomares e o mesmo ocorre para os Azeites Batalha.
Esses produtores prestam serviços a produtores na volta. Se for preciso levar lá as azeitonas eles podem processar e inclusive podem entregar até com o vidro mas sem a marca comercial desde que garantido as 24 horas.
Em Caçapava do sul e Barra do Ribeiro também estão fazendo isso, os produtores colhem e transportam nas agroindústrias até 24 horas, isso é considerado mais uma alternativa de renda para os pequenos agricultores familiares.
Ibra Oliva, Embrapa sempre tem as cultivares e estão vendo se precisam ou não de polinização, que são chamados cultivares polinizadores, mas a gente tá batendo o martelo com algumas cultivares que são os que praticamente todos produtores têm dela, que são cultivares pra azeite, nenhuma delas pra azeitona em conserva, que é a azeitona mais graúda, mas o Batalha quer explorar essa área aí.
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